Sobre cultivar a leitura

leitura

Para Christine Fontelles, coordenadora da Rede Temática GIFE Leitura e Escrita de Qualidade para Todos e diretora de educação e cultura do Instituto Ecofuturo, a questão da leitura precisa ser abordada não apenas a partir do número de livros lidos, mas também a partir da qualidade dessa leitura. “A questão é o que lemos, como lemos, que uso fazemos das leituras realizadas e, sobretudo, quem nos tornamos a partir das leituras”, afirma. Continue lendo “Sobre cultivar a leitura”

Olá, vocativo, como vai?

vocativoMuito provavelmente mensagens como “Bom dia família” ou “Bom dia amigos” com frequência apareçam na tela de seu telefone pela manhã. É comum eu encontrar e-mails institucionais que começam com “Bom dia Bernado,” ou “Oi Bernardo,” em minha caixa de entrada. Nos agradecimentos ou despedidas, muitas vezes lemos “Obrigado pela ajuda pessoal”.

As palavras “família, “amigos”, “Bernardo” e “pessoal”, nas frases citadas, têm a função de chamar ou interpelar o interlocutor, indicando a quem a mensagem se destina. Essas palavras são o vocativo das frases, termo que vem da palavra latina vocativus, que podemos traduzir como chamar.

Vejamos como o dicionário Caldas Aulete define o termo:

vocativo (vo.ca.ti.vo)
sm. 1. Gram. Palavra ou expressão us. para chamar ou interpelar uma pessoa (p.ex.: Clara, quero falar com você.)
a. 2. Gram. Diz-se de palavra ou expressão us. como interpelação (caso vocativo)
[F.: Do lat. vocativus.]

Em línguas antigas, como o latim e o grego clássico, e em algumas línguas modernas, como o polonês e outras línguas eslavas, ocorre o caso vocativo, que é quando o nome declina para indicar referência à 2ª pessoa, para identificar a quem se destina a frase. Na Língua Portuguesa, no entanto, o caso vocativo desapareceu e, se queremos utilizar determinada palavra para dirigir a frase a um interlocutor, devemos sempre separar o vocativo por meio de vírgula.

Sendo assim, o uso correto do vocativo se dá da seguinte forma:

  • Bom dia, família.
  • Oi, professor.
  • Amigos, vamos ao cinema?
  • Obrigado pela ajuda, mãe.
  • Pessoal, não se esqueçam de separar o vocativo por meio de vírgula.

Filmes para se apaixonar pela palavra

Do filme "Só dez por cento é mentira", de Pedro Cezar.
Do filme “Só dez por cento é mentira”, de Pedro Cezar.

A palavra, em Língua Portuguesa, é sempre muito sonora. Está muito próxima da canção. Ela é também muito diversa, foi alimentada por inúmeras culturas e continua a todo tempo se transformando. Além disso, muito constantemente tentam esticar seus significados, trabalho dos poetas.

Mas como ela própria, a palavra, se sairia no papel de protagonista de filme de cinema? Os cinco filmes que selecionamos podem responder a essa questão e, nesse processo, fazer o espectador se apaixonar pela palavra falada, cantada e escrita em Língua Portuguesa. Continue lendo “Filmes para se apaixonar pela palavra”

#PensarPalavras – Empoderamento

empoderamentoInauguramos a seção #PensarPalavras com a palavra empoderamento. A ideia é discutir os usos de termos em voga no debate público atual e que estejam relacionados a ideias necessárias para melhor pensar e, consequentemente, melhor escrever sobre a sociedade em que vivemos.

A escolha da palavra tema deveu-se à celebração, na última semana, do Dia Internacional da Mulher, data que tem sua origem nas lutas por melhores condições de vida, de trabalho e de direito de voto para as mulheres. Para melhor situar a palavra nesse contexto, vejamos o que a ONU Mulheres diz sobre empoderamento feminino no âmbito do desenvolvimento sustentável:

Empoderar mulheres e promover a equidade de gênero em todas as atividades sociais e da economia são garantias para o efetivo fortalecimento das economias, o impulsionamento dos negócios, a melhoria da qualidade de vida de mulheres, homens e crianças, e para o desenvolvimento sustentável. Continue lendo “#PensarPalavras – Empoderamento”

O autor, o editor e o revisor no cenário de democratização da escrita

Luís Fernando Veríssimo

Tarefa complicada a do revisor de texto e, em Cuidado com os Revizores, Luiz Fernando Veríssimo apresenta dificuldades que podem envolver a relação complexa entre autor e revisor. Segundo ele, o escritor convive, cotidianamente, com o terror do erro de revisão e, jocoso, levanta a hipótese de muitos autores acreditarem na existência de uma conspiração contra eles. Quais não seriam os problemas, se usassem palavras como “ônus” e “medra” e houvesse erro por parte do revisor? Em História do Cerco de Lisboa, obra de José Saramago publicada em 1989, o protagonista Raimundo Benvindo Silva é um revisor de textos, solteiro, com mais de 50 anos. Ao fazer a revisão do livro História do cerco de Lisboa, ele rompe com o mandamento máximo dos revisores: não alterar o conteúdo do texto. Em frase decisiva da narrativa, acrescenta um “não” e contraria, assim, a história oficial.

A crônica de Veríssimo e a obra de Saramago tratam, cada uma a seu modo, dos limites das ações do revisor e discutem, mesmo que de forma indireta, a questão da autoria. É consenso afirmar que o sentido de um texto não é algo dado a priori, estável e imutável, que basta ser “descoberto” pelo leitor. A linguística e a teoria literária moderna promoveram revisão no problema da interpretação e, assim, não se pode mais acreditar que o sentido de um texto deva ser buscado na intenção do escritor. Sabe-se que ele, autor, não é a fonte absoluta do sentido, pois, em sua fala, outras falas, inúmeras, também se pronunciam. Se o sentido de um discurso é construído e não descoberto, se o leitor deixa de ser o “receptor” e passa à posição de sujeito ativo, qual não seria o papel do revisor, também leitor do texto antes que ele chegue ao destinatário final? Continue lendo “O autor, o editor e o revisor no cenário de democratização da escrita”